sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O diabo veste penas



Indo pra lugar mais pro interior, uma vez há uns anos, comi "aquela" galinha. Aquela comidinha gordurosa e saborosa de interior.



Achei que se mal fizesse na mesma noite ou no dia seguinte, o demônio me visitaria, mas seria rápido e ligeiro. Ahãm... pra quê???? Foram os mais longos 4 dias sem cagar da minha vida.
Me lembrava dos congestionamentos de São Paulo que via pela televisão sempre que se mostrava a cidade. Aliás, no Rio geralmente é tiro/tráfico/ônibus queimado e morte.... mas voltando a curta história de meus longos dias de sofrimento ... 

Lá estava eu, nos que foram os dias mais longos de minha vida, mais ainda que na semana quando ouvi a quase afirmação de fim do mundo da frase "acho que tô grávida".

Tá grávida? É mesmo?
A cada acelerada na marcha lesma do expresso bosta no intestino sem fim, já mais parecendo encomenda vindo do exterior pro Brasil e do Brasil pelos correios pra algum lugar próximo da Terra do Nunca, após algum passeio mais longo que de qualquer turista viajando pelo país e depois minha humilde residência, totalmente angustiado.

Lá estava eu, aflito, pensando em beber laxante da boca da garrafa, em suicídio moral de minha nobre consciência de macho (aham...) em pensar até em supositório, ou até em engolir alguns pra evitar minha emasculação e até agilizar o efeito. Até em pensar em fazer um shake com Activia de ameixa.

Lá estava eu, e o efeito esquisito de ter algo dentro de mim que parecia a cruza de um paralelepípedo com uma tartaruga, tamanho era o medo do tamanho do tijolo que ironicamente não queria atravessar a minúscula válvula de escape de minha panela de pressão.

A Minúscula válvula do Marionaopergunte
Nestes quatro dias até tive pena da galinha, que com diminuta ferramenta de trabalho, tinha quase (exatamente) um parto ao cuspir o ovo frito nosso de cada dia.
Já pensando no sufoco da cobra pra cagar a carcaça de antílope que ela havia engolido, e a puta da galinha eu não havia comido inteira pra tamanha agonia. 
Estava achando que tinham temperado a galinha com Cimentcola Quartzolit.

...é pra dar liga...
Ao fim do quarto dia já nem lembrava se era o quarto, se era o quinto dia. Só tinha esperança de manter o cú no lugar pra parir o tijolo, ou não perder as pregas pra instrumentos cirúrgicos em um centro hospitalar.
Pra minha salvação não saiu quele tijolo seco da gruta perdida no Nuncaseviuquistão.
Mas ao parir aquele submarino, após um tempo e esforço tremendo e quase que literalmente empurrar o trem até o fim dos trilhos pra chegar na estação brioco, já pensava que aquela devia ser uma galinha preta, que fugiu da macumba, que pulou a cerca pro terreno da boa velhinha e conjurou uma puta de uma maldição antes de ser decapitada pra virar a alegria da família naquele almoço de fim de semana. A maldição rogada por esta quenga devia ser "sentir o que era o trabalho de fazer, sentir e parir um ovo", ou o dia a dia da galinha.


Finalmente botei o submarino pra passear
Maldita seja aquela galinha, até hoje me vingo comendo suas primas... 

Nem no dia em que comi pimenta velha, ou no dia que exagerei no composto e fui pro vaso pensando em lançamento de foguete da Nasa, sofri tanta angústia. Nunca fiquei tão ansioso em cagar ou até me cagar todo pra me livrar daquele troço, daquele demônio, daquele encosto, que pra piorar tava encostado em algum km do meu intestino em vez de seguir viagem.

Depois dessa cagada, foi embora a angústia, o peso na consciência. Aliviou até a alma.
Se eu morresse de exaustão, estaria a caminho do paraíso.




Por: Marionãopergunte






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