segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O que o olho (não) vê…


 By Monkey

Ver além dos olhos físicos é um dom (ou maldição) que muitos relatam possuir. Pela minha experiência, não é algo que creia existir só em filmes ou documentários de TV que, bom…

 ...podem estar ebriamente cobertos com o manto da ficção fantástica, ou terror, para arrebanhar fiéis sedentos de experimentar o inexplicável pelas histórias bem (ou mal) contadas.

 

História mal contada

Conheço pessoas próximas que possuem alguns desses dons, dos quais já fui testemunha. Ao ver e ouvir o que vi, minha única reação foi o silêncio, pois a formação científica prontamente me limitou de dar explicações lógicas convincentes e inclusive, que fossem de fácil constatação por terceiros.

Em todo caso, já vi demais para simplesmente ignorar fatos que me vêm mostrar e, quiçá, provar que o inexplicável deva possuir alguma explicação, muito embora esteja além do meu alcance.

Certa vez tive uma dessas experiências sem explicação, daquelas que, quando tudo termina, inconscientemente você grava a lembrança no seu firmware até o fim dos dias. Claro, isso não acontece com todo mundo, mas os escolhidos sempre guardam alguma história para contar, muito embora seja cercada do ceticismo natural que nos habita. Passei por uma dessas quando criança e, graças, desde então, poucas vezes presenciei algo parecido novamente, porém não na mesma intensidade.

 



A história que vos segue aconteceu há cerca de 35 anos atrás, quando ainda os sonhos de infância pareciam bem reais ante as brumas da adolescência. Infelizmente, nem todos os sonhos são bons, de sorte que ao buscarmos explicação lógica baseada em fatos científicos naturalmente entendidos, por vezes acabamos nos levando a boas encruzilhadas filosóficas.

Era um mês de dezembro e, nas férias, costumava viajar para o interior e passar alguns dias em companhia do meu avô, numa fazenda remota, no meio do nada, sem água encanada, energia ou telefone. A casa grande era antiga e fora construída no início do século XX, por volta de 1907. As grossas paredes de tijolo de barro escalavam por longos metros acima do solo, sustentando um pesado telhado adornado por uma bela cumeeira de aroeira, madeira nobre que não dá cupim. Na enorme casa de cinco quartos, residiam meu avô e duas funcionárias que cuidavam de toda sua manutenção.



Ah... vovô...

 

À noite, eu dormia na sala, pois era o canto mais ventilado depois que as trancas de madeira arrolhavam as portas para evitar que peregrinos indesejados ou animais entrassem à noite na casa.

Certa noite, depois de passar o dia brincando com os primos (que dormiam em casas vizinhas), tomei meu banho e todos foram se recolher. Armei minha rede, apaguei a velha lamparina de querosene e me acomodei para dormir. No quarto ao lado, meu avô já dormia feito uma pedra esquecida lá no rio. Uns 10 metros mais à frente, as funcionárias dormiam em outro quarto. Deitara cansado após restar vencido um exaustivo dia de brincadeiras e explorações nas belas paisagens bucólicas do interior. O silêncio habitou.

O silêncio na fazenda

 

Lembro que estava numa rede de lado, e virei para cima, sonolento. Tentava adormecer quando, sem intenção, olhei para o telhado, tentando me livrar de um mosquito faminto. Foi quando algo me chamou atenção: alguma coisa na parte superior da parede estava diferente. Bem acordado, fixei o olhar e percebi dois pequenos sinais em cor púrpura cintilando ali num canto (Vaga-lumes dentro de casa?). A lógica, entretanto, não se ajustava. Vaga-lumes normalmente não são púrpura, nem sequer ficam parados e aos pares durante tanto tempo. Certamente havia algo de errado no que eu estava presenciando.


 

Fechei os olhos rapidamente e, ao abrir, percebi que os dois pequenos sinais desciam pela parede. Não, eu não estava dormindo, nem sequer estava em estado de baixa consciência. Os sinais, inicialmente turvos, agora se ajustavam em foco, de forma que percebi claramente o que eram: olhos… púrpura.

Naquele momento, experimentei um máximo de medo, impotência e desconhecimento. Era como se todas as minhas forças sumissem, absorto numa tentativa inútil de se mover dali e congelado como uma presa ao encontro de meus últimos instantes. Tudo era em vão e sem esperança. Algo chegaria até mim, mas não sabia o que era, nem o fim que levaria os desdobramentos daquele evento macabro.

Ao leitor, a primeira coisa que ocorre é: havia uma semente de medo que fora bem regada, bem adubada e cresceu frondosa. Nah! Nunca, até aquele fatídico dia, pensara em ter medo de escuro, assombrações e talz. Pelo contrário, adorava contar história de terror aos meus primos (principalmente os menores) para ver o brilho do medo em seus olhos. Dessa vez, a vida era quem me contava uma história.

Juntei forças, venci a abasia, levantei da rede e corri sobre pernas bambas para o quarto das funcionárias, que ficava a uns 10 metros de distância. Bati desesperadamente a porta, enquanto os olhos me seguiam pelo longo salão de jantar.

Demorou, mas abriram. A moça que saiu de lá virou rapidamente para a sala e perguntou, sem que eu nada houvesse dito:

- O que é aqu…?

E eles sumiram!

Sim, ela também havia visto os mesmos olhos púrpuras. Agora não era apenas uma, mais duas almas tocadas pelo medo do desconhecido.

Meu avô acordou e tivemos uma conversa sobre o assunto. A moça assustada trancou-se novamente no seu quarto com a outra funcionária e eu fui deixado na casa da minha tia ali perto, onde passei o restante das férias.

Nunca mais dormira naquele canto, nem tampouco vira algo semelhante ali nos anos que se seguiram.

Bem, pelo menos não ali…

E você, já teve alguma experiência similar?




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