Toda cidade tem uma figura bizonha que insiste em aparecer do nada, nos locais mais inusitados.
Lembro dum velhão punk, o Lotus Rock. Sempre estava em todos os shows na cidade, com uma garrafa de bebida (preferencialmente licor Golf de menta), sem camisa (magrelo que dóia) e com várias inscrições feitas com pincel atômico.
O conhecia desde pequeno, sempre educado com quem merecia. Quem não hesitava e já mandava um desleixado "Go to Hell sonafobeech".
Uma vez, quando ainda tinha uma longa cabeleira, descia uma rua perto de casa e encontra meu pai. Conversa uns minutos e se depara com um cara pintando um muro de amarelo, e pede pra usar a tinta.
No final da tarde o encontro e tá lá ele quebrando o cabelo todo amarelo. Inúmeras histórias do cara, foi inspiração até pra disco.
Terminei meu segundo grau num supletivo chamado Evolução. Um belo dia, descendo a rua do colégio encontro o Lotus e vamos conversando numa boa, até que ele me pergunta qual rua estávamos descendo e digo:
- É do Evolução.
E já recebo a sagaz resposta:
- Putz, quando terminar de descer a rua seremos macacos!
Eram essas piadinhas por vezes infames que conquistavam a simpatia de muitos.
Com visual agressivo, costumava espantar os mais velhos. Mas teve uma situação que presenciei onde uma criança teve uma reação muito desconcertante.
Num teatro de arena, o Centro de Convivência Cultural há a "Feira Hippie", onde também há uma seção com barraquinhas de comida. Estava eu apodrecendo num belo sábado ensolarado por lá e eis que o Lotus surge com um saquinho cheio de esfihas. Comendo e falando besteiras, avista uma menininha que pedia comida por ali, e vai de encontro à ela.
A menininha chora e grita: "Demônio, demônio!" e sai correndo assustada. O velho punk se desmancha em prantos, pois só queria ajudar a criança. Foi bem foda, ele ficou o dia inteiro de bode.
Impossível não conhecer essa figura de Campinas até meados dos anos 2000, quando uns hippies o empurraram e quebrou a bacia (tava velho né). Fora internado em uma clínica de desintoxicação (normal ele não podia viver tanto daquela maneira) e a lenda morre.
Morava próximo à casa dele, onde vivia com a mãe (mais do que centenária!). Quando passava por ele, já com a aparência física mais saudável, o saudava como "Seu Mario".
Era uma figuraça.... |
Todo lugar tem seus personagens, bizarros ou não. Vocês teriam algumas histórias de indivíduos únicos que habitam/habitavam suas terras?
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